top of page
Buscar

Imersão na Fundação AMI, Equador: resumindo o que não se pode resumir


Um dos espaços externos da Fundação, destinado à crianças que já possuem autonomia para caminhar e comer.

Entre os dias 28 de fevereiro e 3 de março, Gabriela, diretora da Zelo, participou do Seminário Internacional “Proceso de capacitación de personas que favorecem la expresión autônoma y espontánea del niño”, organizado por María del Carmen Vasquez e Étienne Moine, diretores da Fundação Amigos de la Vida (AMI), do Equador.


Foram dias de imersão no trabalho que realizam, mas também de imersão na vida da comunidade indígena Quíchua, onde os participantes do Seminário ficaram hospedados e vivenciaram alguns momentos cotidianos com as famílias anfitriãs. São famílias dessa comunidade e também de outras comunidades do entorno que frequentam a Fundação, junto de seus filhos de 0 a 4 anos de idade.


O trabalho é dirigido por Maria e Étienne e conduzido cotidianamente por profissionais cuidadoras que também vivem nas comunidades do entorno. As mesmas acompanham as famílias e suas crianças em suas atividades autônomas, em um espaço cuidadosamente preparado e enriquecido para oportunizar explorações e interações respeitosas e ternas entre as crianças e destas com os adultos.

Maria e Étienne, diretores da Fundação AMI

Como mencionado por Maria, a Fundação é um paraíso, mas este paraíso foi construído arduamente durante muitos anos e com muitos esforços para se chegar ao modelo atual. Não se trata de uma escola, nem de uma instituição de acolhimento. É um lugar que recebe as famílias e crianças durante o dia, as quais participam voluntariamente.


Apesar dessa especificidade no formato do atendimento, dada a qualidade do trabalho que realizam, seus princípios podem inspirar diferentes realidades, instituições e programas voltados à primeira infância. Sobre isso, Maria enfatizou que: “É muito importante não optar por uma metodologia, mas sim por princípios de trabalho”. Isso nos alerta que, muito mais do que assumirmos uma ou outra ferramenta ou abordagem de trabalho, o mais relevante é sermos coerentes com alguns princípios centrais que asseguram direitos fundamentais e necessidades essenciais das crianças pequenas.


Para os profissionais que atuam na Fundação AMI, tais princípios compõem um enfoque educativo bastante amplo, pois implicam não só uma forma de trabalhar com as crianças, mas “uma forma de viver”. Trata-se de um convite para que todos nós, adultos, sejamos coerentes com aquilo que queremos para as crianças e vivamos isso na relação conosco mesmo, com outros adultos e com todo nosso entorno.


Apresento sumariamente alguns princípios que discutimos no Seminário e que me parecem centrais:


1) Nenhuma instituição pode substituir o lugar e a importância que têm a família e a comunidade na vida de uma criança;


2) O bom trato com as crianças pode acontecer dentro de qualquer cultura e costumes, por isso julgamentos às práticas das famílias não devem ocorrer;


3) Ser humano é ser sinônimo de uma grande incerteza e insegurança, ainda que tenhamos muitas ferramentas para nos desenvolvermos. As únicas coisas que podem nos fortalecer frente à tal insegurança e abrir possibilidade para uma vida digna são o amor incondicional dos adultos e a possibilidade de exercer nossa autonomia, desde o início da vida. No caso da criança pequena, ela precisa vivenciar esses aspectos no nível sensório-motor-afetivo. Especificamente, o investimento do adulto deve ser vivenciado pela criança através da postura corporal acolhedora do adulto, de seu toque respeitoso, olhar mútuo e fala autêntica. A criança também percebe esse investimento incondicional observando as ações que o adulto faz, tais como a forma como ele prepara o ambiente para ela, prepara sua alimentação e outros cuidados ao seu corpo. Já com relação ao exercício da autonomia, é imprescindível que o adulto dê tempo para que a criança se dê conta do seu entorno e tome decisões por conta própria;


Ambientes de exploração e cuidados cuidadosamente planejados

4) Liberdade e responsabilidade são parte de uma mesma realidade. Os limites naturais da vida são oportunidades de amadurecimento para a criança (e para todos nós!), no sentido de que nos permitem desenvolver responsabilidade e criatividade. No entanto, sabe-se que faz muita diferença colocar limites em um espaço que está adaptado para a criança, ao contrário de espaços muito restritivos, em que nada pode. Nesses últimos espaços, como a criança vai entender o sentido do limite e diferenciar os pesos de cada um?


5) Finalmente, um último princípio importante, que atravessa todos os demais: "NOSSO PAPEL COMO ADULTO É PROPICIAR VIVÊNCIAS DE SERES AVENTUREIROS!”


Nosso querido grupo, junto de Maria e Étienne

Que nesse pequeno texto eu possa inspirá-los e transmitir um pouquinho do que foi essa REAL experiência formativa na Fundação AMI! Obrigada Maria, Étienne, demais profissionais da Fundação, famílias anfitriãs e colegas que estiveram comigo nos cinco dias do Seminário! Em especial, agradeço à Aline Diniz e à Eliana Olinda pela organização dessa aventura e à Rede Pikler Brasil por nos apoiar nesse e diversos momentos formativos importantes.


Abraços esperançosos!


Gabriela Dal Forno Martins - diretora da Zelo Consultoria


Quer saber mais sobre a Fundação AMI? Conheça o site: http://fundacionami.org.ec/wp/

bottom of page