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Planejar na Educação Infantil: para que mesmo?



O planejamento pode ser compreendido como a possibilidade de antever e projetar ações. Para quaisquer eventos cotidianos necessitamos de planejamentos e meios para alcançarmos nossos objetivos. Assim, planejar experiências no contexto da Educação Infantil prevê essa antecipação de ações, pautando-se, inicialmente, em concepções claras de: infância, referenciais teóricos que fundamentam as práticas e a legislação que integra este vasto percurso que compõe as etapas do planejamento. Dessa forma, o planejamento reflete, antes de tudo, um comprometimento ético que norteia as ações pedagógicas nas escolas.


Ainda hoje é comum que se associe o planejamento a um processo burocrático, enfadonho e até mesmo como um mecanismo de controle institucional. Assim, acabamos nos remetendo a ferramentas que podem gerar o “engavetamento” de documentos e preenchimento de formulários, em detrimento de um planejamento coerente, “vivo” e criativo. Planejar, para além de procedimentos burocráticos, exige a imersão no contexto de aprendizagem e pesquisa.


Nesse sentido, é imprescindível considerar a observação das interações e explorações infantis, a reflexão sobre as estratégias, o desenvolvimento de ações e o registro das experiências como um ciclo que nunca termina. Para planejar as experiências das crianças é imprescindível que as intenções educativas possam criar oportunidades para a aprendizagem e desenvolvimento, esse é o fim essencial do processo de planejamento.


Apesar disso, o planejamento também envolve a construção formal de materiais escritos. Normalmente, esses materiais incluem ideias de ações futuras, a descrição dos materiais, organização dos espaços, estratégias de condução, execução e interações com as crianças, os registros mais significativos após a realização das ações, a avaliação reflexiva do professor e a possibilidade de elencar novas propostas. Escrever sobre esses aspectos é algo fundamental, não no sentido burocrático ou como mera prestação de contas, mas sobretudo como forma de autorreflexão do educador e também como ferramenta para se discutir e reflexionar junto à equipe e a coordenação pedagógica. Além disso, os registros escritos podem também ser compartilhados com a família e com as crianças.

Mas planeja-se o que e quais momentos do cotidiano na Educação Infantil? O planejamento abrange os diversos momentos do dia, considerando que todos são relevantes como contextos de experiências para a criança. Sendo assim, devem ser pensados com intencionalidade pedagógica clara.


Isso se aplica, inclusive, para os momentos que envolvem cuidados ao corpo, alimentação e higiene, que normalmente são negligenciados nos processos de planejamento. Estes também devem ser pensados como ações educativas, evitando a persistente dissociação que se faz entre os cuidados ao corpo e as tradicionais “atividades dirigidas”, estas normalmente consideradas de maior valor pedagógico e unicamente alvo de reflexões por parte dos educadores. Assim, é necessário planejar na perspectiva de que as ações pedagógicas acontecem em todos os momentos e não somente num determinado recorte da rotina.


Outro princípio fundamental do planejamento diz respeito à participação das crianças neste processo. Defendemos aqui uma perspectiva de planejamento que envolve a contínua interação entre crianças e educadores e a necessária escuta e observação atenta por parte dos mesmos aos movimentos que as crianças fazem, de modo a inspirar as decisões dos educadores. Compreende-se que a participação efetiva, a escuta e contemplação dos interesses das crianças neste processo oferece material de pesquisa e investigação para a construção do planejamento. Esses fatores devem sempre nortear as ações de um educador, ou seja, o desejo e o interesse como um pesquisador constante de sua prática.


Por fim, destacamos que a coordenação pedagógica tem um papel importante no acompanhamento de experiências, seja presencialmente, como também nas discussões e reflexões sobre os registros das experiências. O papel da coordenação precisa ser estratégico na articulação coletiva e elaboração de estratégias abrangentes e integradoras de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, espera-se que a coordenação possa contribuir na discussão e avaliação crítica dos planejamentos, juntamente à equipe. Sugere-se um acompanhamento semanal dos processos de planejamento e discussões coletivas que colaborem para a construção dos planos futuros.


Neste ponto, reitera-se a ideia de que um planejamento se torna verdadeiramente impactante no contexto escolar e gerador de experiências significativas para as crianças, à medida que o mesmo dá sentido ao fazer do educador e, de forma coletiva, ao projeto pedagógico que a escola persegue.


Autoras:


Marlise Lemos - Mestre em Educação pela PUCRS. Bacharel em Psicopedagogia pela PUCRS. Ministrante de cursos de formação para educadores e coordenadores pedagógicos. Realiza consultoria para escolas de Educação Infantil, direcionada a planejamento e acompanhamento dos processos pedagógicos. Atualmente é supervisora pedagógica no Centro da Juventude do CPCA - Centro de Promoção da Crianças e do Adolescente.


Gabriela Dal Forno Martins - Pós-doutoranda em Educação pela PUCRS, Doutora em Psicologia pela UFRGS, Mestre e psicóloga pela UFSC. É integrante do NEPAPI - PUCRS (Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Aprendizagem e Processos Inclusivos) e do NUDIF - UFRGS (Núcleo de Infância e Família). Realiza consultorias a escolas de Educação Infantil,

formação de educadores e atua como professora universitária.

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