O PAPEL DA GESTÃO ESCOLAR NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DOS CUIDADOS CORPORAIS
- Zelo Consultoria

- há 2 dias
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1. Sinalizar que a qualidade dos cuidados é um valor para a escola
Os valores institucionais são o coração de uma escola. É o que move cada profissional, diariamente, em sua atuação, dando sentido ao seu fazer e balizando a qualidade do seu trabalho. Por isso, esses valores precisam estar explícitos para a equipe e serem constantemente rememorados. Nessa direção, a primeira tarefa para a gestão é avaliar quais são os valores institucionais e como eles são comunicados. Por vezes, os valores existem, mas são genéricos e não orientam as ações. Por exemplo, muitas escolas dizem que valorizam “um ambiente acolhedor para crianças e famílias”. Mas o que isso significa na prática? Se, como gestor, quero que minha equipe invista sua energia na realização de cuidados corporais de qualidade, preciso explicitar isso como um valor. Um exemplo de formulação que ajuda mais no momento de comunicar esse valor seria “Entendemos, como escola, que o acolhimento da criança começa na forma como cuido de seu corpo, com respeito, delicadeza e comunicação olho no olho”.
Como já dito, porém, é preciso, além de considerar os cuidados corporais como um valor, comunicar tal valor constantemente e por meio de diferentes estratégias. Uma delas, sem dúvida, é explicitar e detalhar esse valor no Projeto Político-Pedagógico da escola. Mas não se pode parar por aí. Outras estratégias podem incluir: realização de encontros formativos/reflexivos sobre o tema; avaliações e autoavaliações sobre a qualidade dos momentos de cuidados corporais; inclusão da pauta dos cuidados corporais dentro do instrumento de planejamento dos professores; realização de registros e documentações sobre momentos de cuidados corporais vividos com as crianças e socialização destes com as famílias e comunidade em geral.
2. Avaliar e monitorar de forma contínua a qualidade dos espaços, tempos e relações durante os momentos de cuidado
Como mencionado no tópico anterior, uma forma de sinalizar que os cuidados corporais são um valor para a escola é incluí-los em processos de avaliação de sua qualidade. Esses processos, devem, no mínimo, considerar: 1) tempo de relógio destinado aos diferentes momentos de cuidado (trocas, alimentação, sono e outras formas de higiene pessoal); 2) espaço físico onde esses cuidados ocorrem; 3) forma de agrupamento das crianças nos momentos de cuidados (se individual, pequeno grupo ou grande grupo); e 4) quem e quantos educadores os realizam. Para cada momento de cuidado, há diferentes indicadores. Por exemplo, se o foco é a alimentação, no caso do tempo de relógio, deve-se avaliar se ele possibilita que as crianças se alimentem ou sejam alimentadas em um ritmo que favoreça a mastigação e deglutição, mas também a interação com o educador e, se ela já é maior, sua autonomia para participar do processo e interagir com os colegas.
Para realizar essas avaliações e monitorar a qualidade dos cuidados pode-se lançar mão tanto de avaliações externas, em que uma pessoa de fora da turma observa e avalia; ou então solicitar que os próprios educadores da turma autoavaliem a qualidade dos momentos de cuidado que vivenciam com as crianças.
3. Dar condições estruturais para que os cuidados sejam bem conduzidos
Coerência é tudo quando se quer ter e manter uma escola de qualidade! Por isso, se a escola assume os cuidados corporais como valores e se propõe a avaliá-los e monitorá-los, cada parte precisa assumir sua responsabilidade. Muitas vezes, cobra-se dos educadores que melhorem a forma de condução dos cuidados, mas não se dá condições estruturais para isso. Por exemplo, se, no refeitório, as mesas são inadequadas ao tamanho das crianças (ex. elas não encostam o pé no chão) e não favorecem a alimentação em pequenos grupos, a gestão precisa colocar como meta a resolução desta questão e caminhar para isso. Ou então, se o trocador não oferece condições de segurança para a criança, estando mal instalado, como posso cobrar que um educador faça a troca em um tempo mais lento?
4. Dar condições de pessoal para que os cuidados sejam bem conduzidos
Também, as questões de pessoal requerem uma atenção especial, pois impactam diretamente a qualidade dos cuidados corporais. Um problema comum nas escolas de Educação Infantil é delegar os cuidados corporais apenas aos auxiliares ou atendentes e deixar os professores regentes de fora desta responsabilidade, como se os cuidados não fossem considerados pedagógicos. No entanto, a legislação nacional na área (Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, BNCC e as recém publicadas Diretrizes Operacionais de Qualidade e Equidade para a Educação Infantil) traz elementos suficientes para a defesa de que cabe aos professores ocupar-se de tudo que diz respeito à vida das crianças no cotidiano da escola, assumindo-se o educar e o cuidar como indissociáveis. Se o professor é eximido de participar dos cuidados, como ele se ocupará de pensar em sua qualidade?
Além disso, é preciso levar em conta o número de adultos suficiente para conduzir de forma adequada cada momento. Trocas de fralda realizadas por um único adulto ao longo do turno ou dia têm maior chance de tornarem-se mecânicas e aligeiradas, pois é natural que o adulto se canse e automatize suas ações. Outro exemplo: se não conto com pelo menos dois adultos na turma para que um leve parte do grupo para fazer a escovação de dentes, enquanto o outro permanece com as crianças que ainda não terminaram de comer, a tendência é que todos comam no mesmo ritmo e depois todos estejam juntos no lavatório, o que pode gerar uma escovação rápida e com pouco apoio do adulto. Não há uma regra única em relação a isso, é preciso analisar caso a caso, considerando o tipo de cuidado e o tamanho da turma.
5. Dar condições de formação para que os cuidados sejam bem conduzidos
Raramente se vê nos programas de formação continuada das escolas o tema dos cuidados corporais. Não somente é preciso incluí-lo, como também convocar todos os educadores que se envolvem em sua qualidade. Por exemplo, para falar da alimentação, além de professores e auxiliares/atendentes, é fundamental a presença de profissional da saúde, cozinheiros, etc. Todos precisam compreender o sentido de investir em cuidados de qualidade e colaborar para os ajustes que se fizerem necessários.
Autora: Gabriela Dal Forno Martins - diretora da Zelo Consultoria
Nota de rodapé:
Este material faz parte da trilha formativa sobre saúde escolar, organizada pela empresa Creche Segura, que convidou a Zelo para colaborar no módulo sobre cuidados corporais.



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